quarta-feira, 27 de março de 2013

Felizes para sempre?

Com suas fotografias baseadas em contos de fadas, acrescidas de uma pitada de sarcasmo e um bocado de criatividade, a fotógrafa canadense Dina Goldstein surpreende com realismo cínico apresentando a dura realidade feminina através da fotografia.



Fonte:
http://lounge.obviousmag.org/palavreando/2012/08/felizes-para-sempre.html

Começa com "Era uma vez" e termina em "E foram felizes para sempre"

Tudo começa com "Era uma vez" e termina em "E foram felizes para sempre". O desenrolar da história perde-se num momento, numa ocasião. O interruptor da luz impulsiona a narrativa e, depois de para sempre, há o mergulho na escuridão. O fim da história. Para sempre é muito tempo. Que promessa é esta? Que certeza? Como pode um final feliz terminar com um ponto final? Onde estão as vírgulas, as interrogações das incertezas e as reticências do silêncio? Conheça o disparo do fotógrafo Thomas Czarnecki sobre os contos de fada.




Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2012/06/e_nao_viveram_felizes_para_sempre.html#ixzz2OkiQKSvJ



quinta-feira, 21 de março de 2013

Compartilho o maravilhoso vídeo no Youtube que fala sobre a televisão.

Título: Fábrica de verdades.

http://www.youtube.com/watch?v=R0Os6Bs3HnU

quinta-feira, 7 de março de 2013

Contos de Fadas



Aula de 06/Março


"o romance e o cinema oferecem-nos o que é invisível nas ciências humanas; estas ocultam ou dissolvem os caracteres existenciais, subjetivos, afetivos do ser humano, que vive suas paixões, seus amores, seus ódios, seus envolvimentos, seus delírios, suas felicidades, suas infelicidades, com boa e má sorte, enganos, traições, imprevistos, destino, fatalidade (Morin)"

E O CONTO DAS FADAS QUE FUGIRAM?

Profa. Dra. Fernanda Ribeiro Queiroz de Oliveira

Tudo em que o homem toca se contamina de simbolização. Em diferentes matizes, em diferentes perspectivas, em diferentes telas, a realidade sempre será uma construção dinâmica dos lugares de onde se parte o olhar. Um objeto nunca será apenas ele mesmo, carregará em si a história e os efeitos de sua produção, as mãos que o tocaram, o espaço que ocupa e o tempo que denuncia.
O que pensar do que já é simbólico por natureza, o que pensar das narrativas que já nascem na intenção de redimensionar e dimensionar o mito de estar no mundo? A arte também é filha da pergunta, também nasceu da necessidade de se entender e dominar o funcionamento do universo da natureza e da condição humana. Como funciona? Como resgatar o que acontece agora, acontecerá e que, antes de mim, aconteceu? Como dominar esses eventos? Como compreender o sentido de estar nesse aqui e agora sendo quem sou? São as linhas de uma busca material pelo imaterial, da construção de algo concreto para se atingir o que não está lá, a linguagem buscando o que a linguagem não alcança.
Em uma sociedade voltada para coisas, máquinas e objetos como a nossa, é fácil se construir o mito de que o símbolo recuou em sua função e importância, que não há espaço para explicações "fantasiosas" do mundo e seus eventos, que o fazer científico quebrou o encantamento das origens. Essa própria postura é parte de um processo de sedimentação de novas narrativas, novos mitos, novas abordagens da realidade. Os emblemas de nossa época, de que o homem será capaz de ser finalmente o criador e vencedor da morte, a guerra por se impor definitivamente aos fenômenos naturais, a invasão de máquinas em nossos corpos de carne, a androidização da matéria, a negação do que não se toca e não se comprova empiricamente reforçam a construção da base desse móbile em que oscila o estudo da passagem humana sobre a terra.
Símbolo é, portanto, a construção na materialidade de uma linguagem que consegue ultrapassar a própria estrutura que o veicula e inserir-se em uma comunicação coletiva que não esgota as possibilidades de significado, é uma significação movente. Sendo assim, podem-se resgatar os contos de fada como movimentação simbólica de representar o mundo não com a literalidade, mas com as potências interpretativas presentes nos fatos. Em sua origem, esses contos maravilhosos, sombrios, projetavam relações humanas condensadas em figuras de monstros, seres fantásticos, capazes de interferir no destino mediante a magia, a determinação, algum poder que se desejava desesperadamente do lado supostamente de fora da narrativa. Eram rituais de linguagem que nasciam de um processo histórico, social e ideológico que testemunhavam o comportamento e visão de um povo, que os explicavam a si mesmos.
Toda boa narrativa, só permanecerá no tempo se os seus abismos simbólicos estiverem sendo continuamente preenchidos por novos tempos, novos espaços, novas referências. E os contos de fada permanecem em nosso imaginário, em nossos comportamentos, no compartilhar coletivo da experiência. As versões mais conhecidas, as higienizadas para ensinarem moral e bons costumes, são as mais difundidas. Retiraram-se as figuras de deusas malditas, de mulheres sanguinárias, passionais e se deitaram por ali as princesas virginais e à espera da figura masculina redentora. Contaminaram-se essas histórias ocidentais com o amor ágape, o amor nascido do sacrifício entranhado no imaginário cristão, ao mesmo tempo em que se tentava reduzir esse símbolo a mero signo (Paul Ricouer),  o elemento cristalizado estéril de múltiplas interpretações, direcionado a uma única possibilidade significativa. E o final feliz ou a ida para o céu permanecem profundamente entranhados em nossa cultura, em especial nos desejos de felicidade previamente estabelecidos para as mulheres.
Todavia, nossa sociedade é a sociedade do desengano. O momento de simbolização de nossa época está profundamente marcado pela descrença na bondade humana, pelo descrédito da ingenuidade ao mesmo tempo em que, nesse recuar da onda simbólica, tenta-se, desesperadamente, construir novas simbolizações. O homem, sem a multiplicidade simbólica, é doentiamente insatisfeito, tomado pela ausência de elementos caros ao ser humano na leitura de si. Daí, nascem os livros de autoajuda, as narrativas da magia como as de Harry Potter, a retomada pelo cinema dos livros de Tolkien, na tentativa afoita de mitificar novamente o mundo pelo imaterial dos significados. E os contos de fada estão retomando suas origens em que não eram direcionados a finais felizes. E as mulheres estão retomando seus espaços nessas narrativas não mais como pesos mortos dançantes, mas ativas na construção de seus destinos, responsáveis por suas escolhas. Os novos contos de fada estão retirando a mulher da infância e trazendo-a para a vida adulta.
Em nosso ciclo do cinema e os contos de fadas, resolvemos promover um choque ao colocarmos VICKY CRISTINA BARCELONA como um de seus emblemas. A grande pergunta é onde estaria o amor, a completude platônica de se alcançar no outro o si mesmo? Onde o ideal, a magia de superar o sacrifício pelo encontro mágico, cômodo de não ter mais que procurar o amor? Não, esse filme está no ciclo de conversas errado!
Não! Ele está no lugar certinho. Os heróis ainda rodopiam em um vértice de busca pelo outro que beira a paranoia. Vicky, a princesa certinha de nossa época, focada em metas, em almejar a felicidade que não oscila, é segura e baseada em arrazoamentos, vê emergir em si a paixão condenada pelo sistema capitalista das relações dos afetos. Cristina, nunca satisfeita, percebe que a normalidade está na repetição e não na fuga dos clichês. Como não é possível estar em constante surpresa e espanto, ela nunca estaciona em um relacionamento ou talento. Maria Elena, o terceiro elemento que faltava para resgatar a Hécate tripartida, é pura passionalidade, instável e inconsequente. Na soma das três, encontramos a princesa moderna, em que os elementos masculinos são pouco mais que pretextos que desencadeiam as reflexões a respeito de si mesmas e de seus próprios anseios. E nenhuma delas sabe quais são. Assim como a mulher contemporânea que está ainda a oscilar na definição de papéis, dentre tantos que estão sendo colocados, no universo íntimo e coletivo. Essa trindade propõe a pergunta novamente, retira as barragens dos movimentos simbólicos e excluem a narrativa pré-programada de suas vidas. E, por vezes, parece até mais fácil aquela época em que não se precisava escolher nem ser responsável pelas escolhas realizadas, que seria bom retomar aquele infância de não ter que ser provedora nem sujeito responsável por si mesmo. Vicky quer, desesperadamente, mesmo sem admitir plenamente, que Juan Antonio faça a escolha por ela. E ele não faz. E quando esboça algo nesse sentido, uma situação extrema, povoada por berros e tiros, atiram cores fortes à verdade de que nenhuma escolha é pacífica e a solução final. Ela foge porque percebe que a sorte de conflitos mudaria naquele relacionamento diferente, e ela prefere os que já possuía. E tem um príncipe baixinho, meio meninote, que diz que a ama enquanto se preocupa com a casa que possui quadra de tênis.
O príncipe diminuiu seu tamanho, está confuso, meio imaturo, perdido na ilusão de é ele o macho sedutor. Cristina, aquela que parecia de fácil sedução, era a mais difícil. Enquanto se entregava com naturalidade a novos jogos sexuais, era a mais fiel à idealização, era a mais fiel ao sonho de encontrar a perfeição, o sujeito perfeito, a vocação perfeita que lhe preenchesse aquele ócio nas relações de capitais de trabalho. E esse príncipe nunca chegara. Daí ela só saber "o que não quer". Porque o não já está posto, mas o sim nunca se alcança plenamente. E o que ela não quer é tudo o que existe, que já está dado, já está pronto.
Juan Antonio é um medíocre, um incapaz de ser encantado por muito tempo. O título do filme não lhe prestigia, mas o local em que os conflitos acontecem - Barcelona, cidade, palavra feminina. Espaço que ativa os humores das heroínas que tentam trocar as cadeiras, Maria Elena quer a estabilidade, Vicky quer o espanto, Cristina quer o amor de pulsos cortados (valioso para Woody Allen). Três mulheres oscilando dentro do seio rendado e provocante da mulher de nossa época.