Uma manhã
ordinária em uma vida incomodada
Acordo às
seis da manhã, cara fechada e de mau humor. Tomo café. Vou para a parada. Dez,
quinze, vinte, vinte e cinco minutos passam-se e nada do baú passar. Novamente,
atrasar-me-ei. Rapidamente, fico estressada, porem encontro conforto em “Variações do Prazer” de Rubem Alves. Antes mesmo de iniciar minha adorável
viagem na leitura "rubemana", o baú aproxima-se, até que fim!!! No entanto, nem
um mosquitinho sequer conseguiria entrar naquele ônibus e, além do mais, a fila
só para entrar está enorme. Abaixo a cabeça, sinto o meu sangue ferver, mas
logo uma voz conformada em minha mente diz:
- Estressar
pra quê?
E ela
continua:
- Vivemos
em um mundo no qual você só tem valor se fazer dinheiro, você só consegue viver
dentro desse sistema trabalhando, fazendo e consumindo dinheiro.
Porem,
outra voz entra no diálogo, e retruca da seguinte maneira:
- O
sistema é um ciclo vicioso que depende de nós para ter êxito, então, por que
não nos rebelarmos?
- Ué,
indaga a voz conformada, há possibilidade de escape?
- Mas é
claro que sim. Sempre houve, sempre há e sempre haverá depende de nós; diz uma
voz revolucionária dentro de minha mente.
Ela
continua seu discurso:
- Mas
são poucas as pessoas que têm a coragem de desligar-se, pois sair do sistema
tem seu preço. No entanto, igualmente tem sua liberdade. Por exemplo, sabe quem
foi o Supertramp?
- Não,
não sei; diz a conformada.
- Pois,
então, foi um jovem audacioso e valente que decidiu viver e desfrutar a vida
junto a Natureza tem até um filme sobre a sua experiência “Na Natureza Selvagem”.
- E ai
ele alcançou êxito nessa vida que escolheu?; perguntou a conformada.
- Consegui
sim, desfrutou, experimentou cada momento único que viveu. No final de sua
caminha, morreu junto à natureza selvagem do Alasca; disse a revolucionária com
os olhos cheios de lágrima.
- Está
vendo, por isso, que fico na minha, prefiro deixar como está a me aventurar
por ai e morrer por nada; a conformada, nesse exato momento, se achou a própria
Margaret Thatcher.
- É por isso, que nada
muda para você! Você quer ser reconhecida pela profissão que exerce, quer
receber o mesmo salário que seus queridos companheiros homens de serviço. Quer
exercer sua vida sexual livremente. Quer ser independente, mas não consegue
mover sequer um dedinho para fora do sistema que lhe reprime, acorda, mulher! A
revolucionária ficou indignada, desceu literalmente uma Rosa Luxemburgo nela. Adorei!
A voz
conformada aos poucos se distancia e desfaz-se na minha mente. A revolucionária
sorriu, e me diz:
- Fique
tranquila, ela vai ficar bem. Um dia ela aprenderá!
E também
me deixa só, levando consigo o livro “Alice no país das maravilhas”. Enquanto a
vejo desaparecer, libero um sorriso discreto porem muito libertador. Logo, que
tais diálogos desfizeram-se em minha mente, uma senhora me cutuca e diz:
- Anda
logo menina, não tenho o dia todo.
Então,
vamos à luta! A primeira do dia: conseguir entrar no ônibus...
Uma (des)produção Jéssyca Lorena.
ps: Qualquer semelhança não é mero conto de fada!Uma (des)produção Jéssyca Lorena.
Esse conto de fadas de gente que coloca o ouvido em conversa alheia e acaba se enxergando nelas, né? Não se pode ignorar que a luta da sobrevivência também tem as suas revoluções. Talvez não contra o sistema, mas sobrevivendo apesar dele.
ResponderExcluirPois é, essa foi a intenção! Pode ser nesse sentido, porque no final das contas a narrativa do conto de fada, qualquer narrativa, proporciona um leque de diversas interpretações devido a diversidade de percepção de mundo e de pessoa. No meu entendimento a personagem em questão está em processo de... Só pelo fato de pensar-se e questionar-se... Como já dizia Fanon para a real independência nacional acontecer há de ocorrer primeiramente o combate pela libertação individual. Quer dizer, a real revolução em termos amplos só virá quando o revolucionar-se já obtiver êxito... É de pouquinho e pouquinho que a galinha enche o papo e a gente vai se cogumelando e se desamarrando do sistema.
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